“Uma palavra que não representa uma ideia, é uma coisa morta, da mesma forma que uma ideia não incorporada em palavras não passa de uma sombra.” Vygotsky
terça-feira, 28 de outubro de 2014
A história do servidor público
Na Roma Antiga, os Servidores do Estado, os que fundamentalmente, pelas qualidades morais, representavam a Polis (cidade), eram investidos de certa autoridade. Tal condição,
compreensivelmente, produzia a cobiça e a inveja dos não eleitos, quer pelo reconhecimento social conquistado, quer pelos inerentes privilégios dela decorrentes. No Brasil, o funcionário público fez-se presente desde seu descobrimento. Pero Vaz de Caminha, os Governadores Gerais e os juízes são exemplos de funcionários públicos.
O serviço público no Brasil expandiu-se em 1808, com a chegada de D. João VI e sua família real, além das centenas de funcionários, criados, assessores e pessoas ligadas à corte portuguesa que vieram com ele e se instalaram no Rio de Janeiro. A partir daí é que se iniciou o processo de tomada de consciência da importância do trabalho administrativo, diante da necessidade de promover o desenvolvimento da então colônia, de acordo com a diplomacia
real.
Proclamada a independência, o Brasil virou império, depois república e, ao longo da história política do país, sempre estavam presentes os funcionários públicos, ajudando a administrar a máquina que impulsiona o desenvolvimento da nação brasileira. É ao trabalhador da administração pública que compete executar as ações que movimentam os serviços básicos e essenciais de que necessitam os cidadãos em suas relações com o Estado Brasileiro. O Estado não pode, por exemplo, criar uma lei, quem o faz é o deputado, o vereador ou o senador; não pode recolher o lixo da rua, para isso precisa do lixeiro; não pode dar aulas, para isso precisa do professor e assim por diante. Em termos gerais, portanto, o funcionário público é aquele profissional que trabalha diretamente para o governo federal, estadual ou municipal.
Um dos primeiros documentos consolidando as normas referentes aos funcionários públicos foi o Decreto 1.713, de 28 de outubro de 1939. Por esse motivo, no ano de 1943, o Presidente Getúlio Vargas instituiu o dia 28 de outubro como o Dia do Funcionário Público. Em 11 de dezembro de 1990, veio a Lei 8.112, que alterou grande parte das disposições do Decreto-Lei 1.713/39, substituiu o termo funcionário público por servidor público e passou a ser considerado o novo Estatuto dos Servidores Públicos Civis da União. Esta lei inovou por englobar os também Servidores Públicos Civis das autarquias e das fundações públicas federais, entes pertencentes à administração pública indireta, mas que realizam atividades típicas da administração, prestando serviços públicos.
Apesar das inovações trazidas pela Lei 8.112/90, os direitos e deveres dos servidores públicos estão definidos e estabelecidos na Constituição Federal de 1988, a partir do artigo 39.
Constam, ainda, nos estatutos das entidades para as quais trabalham.
Disponível em http://www.artigonal.com/carreira-artigos/servidor-publico-um-enfoque-para-a-atualidade-
3900940.html. Acesso em 29 de fevereiro de 2012. [adaptado]
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Espaço para aprender
“Crianças tem sua infância apenas uma vez. Tire a infância delas e
elas a terão perdido para sempre” (Joan Can).
Embora estas duas fotos tenham sido tiradas em épocas distintas, não percebemos mudanças na organização do espaço da sala de aula. Até entendo esta lógica de organização, pois sou boa leitora de Foucault, e o mesmo explica muito bem os objetivos deste tipo de organização do espaço, que é: disciplinar e controlar o corpo da criança.
Acredito que o trabalho pedagógico não precisa ser feito num espaço, onde as crianças ficam sentadas e enfileiradas em carteiras, pois, o que caracteriza o trabalho pedagógico é a experiência dos alunos com o conhecimento científico e com a literatura, a música, a dança, o teatro, o cinema, a produção artística, histórica e cultural, em todos os espaços, dentro e fora da escola.
É possível planejar e criar ações pedagógicas com base nos jogos e nas brincadeiras, mediante movimentos de interações entre as crianças num espaço e tempo que favoreça as trocas de informações.
O próprio Ministério da Educação, em sua política nacional, assegura às crianças um tempo mais longo de convívio escolar.
É certo que com práticas que atendam e respeitem as especificidades das crianças, elas terão maiores oportunidades de aprendizagem, consequentemente uma aprendizagem mais ampla. (Ensino Fundamental de nove anos. Orientações Gerais. MEC, 2004, p.17).
elas a terão perdido para sempre” (Joan Can).
Acredito que o trabalho pedagógico não precisa ser feito num espaço, onde as crianças ficam sentadas e enfileiradas em carteiras, pois, o que caracteriza o trabalho pedagógico é a experiência dos alunos com o conhecimento científico e com a literatura, a música, a dança, o teatro, o cinema, a produção artística, histórica e cultural, em todos os espaços, dentro e fora da escola.
É possível planejar e criar ações pedagógicas com base nos jogos e nas brincadeiras, mediante movimentos de interações entre as crianças num espaço e tempo que favoreça as trocas de informações.
O próprio Ministério da Educação, em sua política nacional, assegura às crianças um tempo mais longo de convívio escolar.
É certo que com práticas que atendam e respeitem as especificidades das crianças, elas terão maiores oportunidades de aprendizagem, consequentemente uma aprendizagem mais ampla. (Ensino Fundamental de nove anos. Orientações Gerais. MEC, 2004, p.17).
Diversidade e cultura
A diversidade é muito mais do que o conjunto das diferenças. Trata-se da diversidade biológica, e também de diversidade fruto da construção histórica, social e cultural das diferenças a qual está ligada às relações de poder e não às relações democráticas. Portanto, ao falarmos sobre a diversidade, não podemos desconsiderar a construção das identidades, num contexto das desigualdades .
Como perceber o processo de construção das diferenças e das desigualdades na dinâmica de sala de aula?
Primeiro, devemos compreender que estas construções não são naturais; são, ao contrário, invenções e construções históricas criadas por homens e mulheres, sendo, portanto, passíveis de serem desestabilizadas e mesmo transformadas. Ou seja, o existente nem pode ser aceito sem questionamento, nem é imutável, constitui-se sim, em estímulo para resistências, para críticas e para a formulação e a promoção de novas situações pedagógicas e novas relações sociais, baseadas muito mais na democracia que no autoritarismo.
Para tanto, devemos optar por uma nova postura frente à pluralidade, suas manifestações culturais, sua diversidade e implicações dentro da escola, devemos desconstruir e desnaturalizar estereótipos e mitos que impregnam e configuram a cultura em geral.
Conscientes desta dinâmica na escola, estamos sempre atentos às formas e maneiras das crianças relacionarem-se durante as brincadeiras e jogos, a fim de, ouvir aquilo que elas têm a dizer ou mostrar a respeito de suas vidas e então, de forma ética, elaborar estratégias e mediações que proporcione momentos de reflexão sobre a importância do eu e do outro, com a finalidade de construir relações que se pautem no respeito, na igualdade social, na igualdade de oportunidades e no exercício de uma prática e postura democrática.
Em nossa sala de aula, uma das estratégias adotadas vem do momento de leitura e a partir das leituras de clássicos infantis, reescrevemos outros conhecimentos e saberes, com base no emprego de pontos de vista distintos dos usuais.
Por exemplo, João e Maria surpreendeu os alunos, quando um agente do conselho tutelar foi resgatar as crianças na casa da bruxa. Desde então, estabeleceram uma relação entre as notícias dos jornais com a realidade do bairro e talvez, da própria família; ampliaram de maneira significativa, suas informações sobre os próprios direitos .
O desfecho do passeio de Chapeuzinho Vermelho à casa da avó também foi outro, culminou na rua. Falamos sobre o código de trânsito, atenção, andar sempre acompanhado e se não for possível, quais os cuidados a serem tomados e assim por diante.
Receita e as múltiplas linguagens.
Não tenho como falar da minha rotina em sala de aula, sem citar de alguma forma Vygotsky, ele que através de seus estudos, revolucionou a forma de pensar o desenvolvimento da criança. Sua concepção histórico social do desenvolvimento humano nos permite compreender os processos de interação existentes entre o pensamento e a atividade humana.
A turma desenvolveu um projeto chamado Receitas de casa. Trabalhamos com texto instrucional (receita culinária) uma vez por semana. O objetivo principal do projeto foi possibilitar o desenvolvimento da capacidade de descrever ações por meio da linguagem verbal.
No primeiro dia, levei uma máquina portátil que confeccionava bolo ou pão após colocarmos os ingredientes. Houve muita euforia ao verem a máquina e pouco interesse pela receita.
Na semana seguinte, os alunos interessaram-se pelo produto final, O BOLO! Foi este produto final que despertou o interesse dos alunos pela leitura e escrita, eles compreenderam a necessidade do aprendizado do texto instrucional (receita), para informar à família, a melhor forma de confeccionar o bolo.
Na sequência, expliquei que tudo o que se fala, se pensa, se imagina pode ser escrito com as letras do alfabeto, números, ou outros signos. Solicitei que observassem os ingredientes e registrassem suas ideias combinando o uso das letras ou algum dos símbolos estudados (estes registros tinham como finalidade a análise dos avanços posteriores). Crianças que diziam não saber escrever eram incentivadas a fazer do modo que sabiam naquele momento, utilizando as mais variadas formas de linguagem, e que teriam muito tempo para aprender mais e mais coisas. Suas receitas foram ampliadas e reproduzidas, para que todos pudessem ler as diferentes formas de registro.
Este tipo de atividade nos permite observar as diferentes impressões que as crianças têm sobre a escrita, e consequentemente fazer as intervenções pedagógicas mais adequadas, além de nos dar elementos para planejar as aulas seguintes. Cabe salientar, que o objetivo da atividade não é fazer com que a criança copie a receita e sim, que, compreenda a sua função social e suas estruturas convencionais em situação real.
Embora esteja falando a respeito da apropriação da leitura e escrita especificamente, não posso deixar de comentar sobre a importância, também, da apropriação da linguagem matemática, quando trabalhamos as questões de medidas, quantidade e números; da linguagem química, ao observarem as transformações e perceberem que a matéria foi modificada e que é impossível retornar ao estado inicial; e muitas outras, ligadas à higiene pessoal e a dos alimentos, planejamento e outros.
As ações pedagógicas, devem revelar os usos e funções da leitura e escrita em situação real de aprendizagem, e todo o processo de ensino deve ser verdadeiramente educativo, despertando nas crianças, a curiosidade e o desejo em aprender!
É muito bom trabalhar para conquistar um objetivo, não é verdade? Principalmente, se o processo para sua aquisição não for um fardo, exaustivo, que te faça desanimar ou desistir pelo caminho.
O Universo e Deus
A partir da leitura de um livro, um aluno de 6 anos, questionou o comportamento do personagem dizendo:
-Este não vai para o céu!
Então, resolvi fazer um levantamento sobre as hipóteses dos alunos, daquilo que cada um pensava existir depois do céu. Desta forma, pude conhecer suas representações mentais e informações que tinham.
Enquanto as crianças falavam, eu registrava num cartaz as informações de cada uma, nomeando o autor destas. Ao mesmo tempo que as crianças trocavam informações sobre tudo que conheciam sobre o céu, deixava claro para o grupo quem era o autor da produção através do registro.
Em momentos de discursividade como estes, as crianças assumem o papel de quem tem o que dizer, para quem dizer e por que dizer, percebem que tanto a linguagem oral como a linguagem escrita constituem meios que propiciam este dizer.
De acordo com Vygotsky (1989), é necessário que a criança dialogue com os conceitos, articulando-os às vozes, saberes e experiências de seu grupo social e de outros. Nessas relações ela começa a elaborar o significado da palavra, a experimentá-la em seus enunciados à luz de outras palavras e de outros enunciados.
A leitura deste registro escrito oportunizou a análise das formas das letras, da direção da escrita (de cima para baixo, da esquerda para a direita), das letras iniciais, do número de letras, enfim, estudou-se a materialidade do sistema de escrita alfabética.
Após a coleta de informações, e tendo como ponto de partida as indagações feitas pelas crianças , planejei as próximas aulas, propondo situações que de modo específico problematizavam seus conhecimentos, levando à apropriação de conhecimentos científicos vinculados às diferentes áreas disciplinares, da linguagem e elementos culturais como os valores éticos.
Obs.: Utilizei um datashow para fazer uma apresentação do universo e dos instrumentos utilizados pelos cientistas, para observação e exploração ao longo da história.
Comentários dos alunos durante a pesquisa:
- Onde está Deus e o diabo?
- Depois das nuvens é que fica as estrelas, a lua, o sol.
-Os planetas, cometas.
-Deus deve estar num desses planetas, não dá para ver.
- Minha mãe disse que o Deus é invisível.
-No universo tem poeira colorida.
-A chuva acontece dentro do planeta Terra.
A concepção religiosa, sobre a constituição do universo, é a raíz privilegiada na comunidade, no entanto, não foi um empecilho à apresentação de outra teoria a respeito de sua formação. As famílias participaram e colaboraram, ajudando nas pesquisas.
Quanto a pergunta, "Onde está Deus?", respondi:
-Nenhum instrumento criado pelo homem, para ver à longas distâncias, conseguiu vê-lo até hoje, pois o universo é muito grande.
Foi quando outra criança respondeu:
-Deve estar escondido.
Então, as crianças começaram discutir os prováveis esconderijos...
Regras, aprendo brincando!
REGRAS DE CONVÍVIO SOCIAL: É BRINCANDO QUE APRENDO MUITAS COISAS!
APRENDO AS REGRAS DE JOGOS E BRINCADEIRAS, ALÉM DE REGRAS QUE ME AJUDARÃO A CONVIVER COM MEUS COLEGUINHAS E ADULTOS.
DURAÇÃO: DOIS SEMESTRES DE 2013
OBJETIVOS:
Para toda criança, brincar é aprender e aprender é brincar.
A brincadeira deixou de ser encarada como uma atividade inata da criança e passou a ser vista como uma atividade humana e social, produzida a partir de seus elementos culturais. O ato de brincar constitui-se em um momento de aprendizagem em que a criança tem a possibilidade de viver papéis, de elaborar conceitos e ao mesmo tempo exteriorizar o que pensa da realidade, além de ser um excelente momento, para que assimilem as regras de convívio social com outras crianças e adultos.
JOGOS DE MESA
JOGO NA SALA DE INFORMÁTICA
INTERAÇÃO ENTRE ALUNOS DE TODAS AS IDADES DURANTE O RECREIO, COM BRINQUEDO CONFECCIONADO PELO 1º ANO.
APRENDO AS REGRAS DE JOGOS E BRINCADEIRAS, ALÉM DE REGRAS QUE ME AJUDARÃO A CONVIVER COM MEUS COLEGUINHAS E ADULTOS.
DURAÇÃO: DOIS SEMESTRES DE 2013
OBJETIVOS:
- Discutir a respeito da importância de algumas regras existentes na sala de aula para que sejam do conhecimento de todos.
- Constatar que as regras só têm valor real se forem aplicáveis a todos, em benefício do próprio grupo.
- Enfatizar as consequências do desrespeito a certas regras.
- Conscientizar os alunos da importância do cumprimento das regras de jogos e brincadeiras, pois são elas que definem o início e fim.
Para toda criança, brincar é aprender e aprender é brincar.
A brincadeira deixou de ser encarada como uma atividade inata da criança e passou a ser vista como uma atividade humana e social, produzida a partir de seus elementos culturais. O ato de brincar constitui-se em um momento de aprendizagem em que a criança tem a possibilidade de viver papéis, de elaborar conceitos e ao mesmo tempo exteriorizar o que pensa da realidade, além de ser um excelente momento, para que assimilem as regras de convívio social com outras crianças e adultos.
JOGOS DE MESA
JOGO NA SALA DE INFORMÁTICA
INTERAÇÃO ENTRE ALUNOS DE TODAS AS IDADES DURANTE O RECREIO, COM BRINQUEDO CONFECCIONADO PELO 1º ANO.
Lembrando sempre que toda criança tem direito a brincar.
Esse direito foi incluído na Declaração das Nações Unidas dos Direitos da Criança em 1959 e reiterado em 1990, quando a ONU adotou a Convenção dos Direitos da Criança e reafirmado no ECA (Estatuto da criança e do adolescente).
Quando as crianças brincam, conhecem a si mesmas a aos outros. Descobrem o mundo e exercitam novas habilidades. Elaboram saídas para as situações de conflito, aumentando assim, a auto-estima. Tornam-se mais avançadas em desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo. Compartilham mais, são menos agressivas, criam vínculos e tem relacionamentos mais seguros com suas famílias e amigos.
Quem brinca aprende a encontrar soluções criativas nas atividades, nos relacionamentos e na vida.
Portanto, deixe-os brincar, ensine novas brincadeiras e reflita sobre práticas pedagógicas que contemplem os jogos e brincadeiras no cotidiano escolar.
Fonte de pesquisa: ECA e LEIS DE DIRETRIZES E BASES.
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
ONDE ESTÃO AS ABELHAS?
Em Santa Catarina, no ano passado, morreram por causas desconhecidas 100 mil colmeias de abelhas – um terço das 300 mil existentes no Estado.
O
desaparecimento de abelhas de várias espécies vem preocupando pesquisadores no
mundo todo. O fenômeno tem forte impacto na produção agrícola e na segurança
alimentar, pois leva ao aumento do custo dos alimentos e ameaça a viabilidade
de culturas. Prestadoras de inestimáveis serviços ambientais, as abelhas
respondem pela polinização de 71 dos 100 tipos de colheita que alimentam e
vestem a humanidade, segundo relatório da ONU de 2010.
Além
de polinizadores, os insetos ainda fornecem mel, geleia real, própolis, pólen e
cera. Até mesmo seu veneno é remédio para artrite, reumatismo e esclerose
múltipla. Usado em alguns países, como a Coréia do Sul, o veneno é aplicado no
paciente usando-se a própria ferroada da abelha.
Colapso
traumático
O
declínio da população de abelhas foi notado nos EUA em 2006, e denominado
Colony Collapse Disorder (Desordem de Colapso da Colônia). Desde então, atingiu
toda a América, regiões da Europa, o Oriente Médio e a Ásia. As causas
propostas são diversas: inseticidas e fungicidas, déficit nutricional associado
à falta de flora natural, mudanças climáticas, manejo intensivo das colmeias,
baixa variabilidade genética, vírus, fungos, bactérias e ácaros – juntos ou separadamente.
Até a emissão eletromagnética de celulares já foi investigada, sem evidências.
Pesquisas
revelam vínculos entre o desaparecimento e a proliferação de pesticidas, que
infligem danos à capacidade de navegação dos insetos. “Os pesticidas são uma
causa de perdas importantes, com certeza”, afirma o geneticista David De Jong,
professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (SP).
“Temos
situações de toxicidade aguda, em que as abelhas morrem de uma vez, logo após a
aplicação do agrotóxico. Mas há outras em que doses subletais podem fazê-las
perder o rumo e não voltar ao ninho. Doses baixas de inseticidas também
enfraquecem o sistema imunológico da abelha. O fato é que, com os novos
inseticidas do grupo dos neonicotinoides, estamos definitivamente perdendo
muitas abelhas Apis mellifera e muitas espécies de abelhas nativas”, adverte o
pesquisador, doutorado pela Universidade de Cornell (EUA).
Uma
pesquisa recente, realizada na Universidade de Stirling (Inglaterra) pela
equipe do professor David Goulson, comprovou que os neonicotinoides, associados
a parasitas e à destruição de habitats ricos em flores de que as abelhas se
alimentam, são as principais razões para a perda das colônias. Embora a
indústria de agrotóxicos e o governo inglês neguem os danos causados aos
insetos, os neonicotinoides, largamente usados na Europa no fim dos anos 1990,
já foram proibidos na Alemanha, na França e na Itália. Nos EUA, estão
associados ao cultivo do milho.
Perdas
no Brasil
No
Brasil, desde 2007 há relatos de apicultores sobre a mortalidade súbita de
abelhas, no Piauí, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo. Uma causa é a
exposição a pesticidas em plantações de laranja, cana-de-açúcar e soja. “Os
laranjais, que já foram importante fonte de néctar para a produção de mel, são
hoje perigosos, dada a quantidade de agrotóxicos usada em razão de doenças como
o greening”, diz De Jong, que trabalha com abelhas desde os 12 anos. “Novos
patógenos recém-descobertos no país também têm sido encontrados em amostras de
apiários onde houve perda expressiva de colmeias.”
De
Jong esteve entre os pesquisadores que o primeiro ministro da antiga Secretaria
Especial do Meio do governo federal (1974-1986), o professor Paulo Nogueira
Neto, chamou para estudar a morte das abelhas na sua fazenda em São Simão,
próximo a Ribeirão Preto. “Morreram colmeias de quatro espécies de abelhas
nativas, todas com sintomas de intoxicação com inseticida, logo após a
aplicação de veneno via avião em um canavial perto da fazenda. Ao mesmo tempo,
morreram todas as 14 colônias de um apiário de abelhas africanizadas próximo
dali”, recorda-se.
Fonte: http://revistaplaneta.terra.com.br/secao/reportagens/onde-estao-as-abelhas
Filme: Bee Movie
Título no Brasil: Bee
movie – a história de uma abelha
Título original: Bee
movie
País de origem: EUA
Gênero: Animação
Classificação etária: Livre
Tempo de Duração: 91 minutos
Ano de lançamento:
2007
Site oficial:
http://www.beemovie.com
Estúdio/Distrib.:
Paramount Pictures Brasil
Direção: Steve
Hickner/Simon J. Smith
Sinopse
O filme mostra o mundo das abelhas sob "a ótica das abelhas",
ou seja, diferente do olhar humano.
Assim, Barry Benson, uma abelha recém-formada, decide
processar os humanos pela apropriação indevida do mel. Mostra, também, os impactos em ambientes naturais decorrentes das ações humanas.
domingo, 19 de outubro de 2014
O Homem que sabia Javanês
Como parte de uma proposta de melhoria do
ensino fundamental e médio desenvolvida pela
Universidade Federal de Goiás, foram selecionados vários contos para
serem trabalhados em escolas do município de Catalão. Os textos foram
escolhidos em função dos temas e de sua forma narrativa. Eles deveriam ser
capazes de prender o leitor do começo ao fim, envolvendo-o na trama dos seus
personagens. No início, foram analisados contos relativamente curtos, para
atrair os estudantes que não tivessem o costume da leitura, já que esse é um
hábito cada vez mais distante da maioria dos alunos.
Um dos contos utilizados foi “O homem que sabia javanês”, de Lima Barreto (1881-1922). O personagem Castelo narra sua trajetória ao amigo Castro entre um copo e outro de cerveja numa confeitaria. Recém-chegado ao Rio de Janeiro, sem dinheiro, ele se depara com um anúncio de jornal procurando um professor de javanês. Apesar de não saber uma palavra desse idioma, vê ali a solução dos seus problemas. Na Biblioteca Nacional, aprende alguns rudimentos de javanês para se candidatar ao posto. Castelo é contratado por um senhor, que por sua idade avançada não consegue aprender a língua. Sorte do farsante, que sabia pouco mais do que o alfabeto. Alvo de admiração por ser conhecedor de um idioma tão raro, ele acaba ficando famoso. É convidado para se tornar funcionário do Itamaraty, sendo designado para representar o Brasil numa conferência de linguística. A partir daí, sua carreira decola e ele chega ao cargo de cônsul em Havana.
Entre os aspectos da sociedade brasileira do início do século XX, o escritor trata da situação do negro na sociedade pós-abolição, já que Castelo, nosso professor de javanês, era um mulato. Prova disso é o fato de se passar por um mestiço filho de javanês. O preconceito fica claro na afirmação de um ministro, de que Castelo não servia para a diplomacia, pois o seu “físico não se presta”. Preconceito e “branqueamento” estavam na ordem do dia: se o físico não prestava e criava limitações, o fato de saber javanês neutralizava parcialmente esta restrição.
Um segundo tema que mereceu tratamento mais demorado em sala de aula foi a centralidade do Rio de Janeiro como capital e como centro urbano mais importante do país. Castelo não nasceu na cidade, mas foi atraído para ela.
As dificuldades do personagem em busca de uma garantia mínima de sobrevivência também foram mencionadas: “Estava literalmente na miséria. Vivia fugido de casa de pensão”, escreve Lima Barreto. Uma imagem típica de quem não tem salário nem moradia fixa. O autor descreve ainda os vários tipos de nacionalidades que o Brasil abarca. “Tu sabes bem que, entre nós, há de tudo: índios, malaios, taitianos, malgaches, guanches, até godos. É uma comparsaria de raças e tipos de fazer inveja ao mundo inteiro”.
Um dos contos utilizados foi “O homem que sabia javanês”, de Lima Barreto (1881-1922). O personagem Castelo narra sua trajetória ao amigo Castro entre um copo e outro de cerveja numa confeitaria. Recém-chegado ao Rio de Janeiro, sem dinheiro, ele se depara com um anúncio de jornal procurando um professor de javanês. Apesar de não saber uma palavra desse idioma, vê ali a solução dos seus problemas. Na Biblioteca Nacional, aprende alguns rudimentos de javanês para se candidatar ao posto. Castelo é contratado por um senhor, que por sua idade avançada não consegue aprender a língua. Sorte do farsante, que sabia pouco mais do que o alfabeto. Alvo de admiração por ser conhecedor de um idioma tão raro, ele acaba ficando famoso. É convidado para se tornar funcionário do Itamaraty, sendo designado para representar o Brasil numa conferência de linguística. A partir daí, sua carreira decola e ele chega ao cargo de cônsul em Havana.
Entre os aspectos da sociedade brasileira do início do século XX, o escritor trata da situação do negro na sociedade pós-abolição, já que Castelo, nosso professor de javanês, era um mulato. Prova disso é o fato de se passar por um mestiço filho de javanês. O preconceito fica claro na afirmação de um ministro, de que Castelo não servia para a diplomacia, pois o seu “físico não se presta”. Preconceito e “branqueamento” estavam na ordem do dia: se o físico não prestava e criava limitações, o fato de saber javanês neutralizava parcialmente esta restrição.
Um segundo tema que mereceu tratamento mais demorado em sala de aula foi a centralidade do Rio de Janeiro como capital e como centro urbano mais importante do país. Castelo não nasceu na cidade, mas foi atraído para ela.
As dificuldades do personagem em busca de uma garantia mínima de sobrevivência também foram mencionadas: “Estava literalmente na miséria. Vivia fugido de casa de pensão”, escreve Lima Barreto. Uma imagem típica de quem não tem salário nem moradia fixa. O autor descreve ainda os vários tipos de nacionalidades que o Brasil abarca. “Tu sabes bem que, entre nós, há de tudo: índios, malaios, taitianos, malgaches, guanches, até godos. É uma comparsaria de raças e tipos de fazer inveja ao mundo inteiro”.
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/educacao/para-ler-a-aprender
Conto homônimo do escritor Lima Barreto
sábado, 18 de outubro de 2014
VICTOR HUGO E FREJAT
Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconsequentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Que mesmo maus e inconsequentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja
útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja
tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja
triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um
gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma
semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha
dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos
morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo
homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar
Victor Hugo
Frejat - Amor prá recomeçar
Eu te desejo não
parar tão cedo
Pois toda idade tem prazer e medo
E com os que erram feio e bastante
Que você consiga ser tolerante
Quando você ficar triste
Que seja por um dia, e não o ano inteiro
E que você descubra que rir é bom,
mas que rir de tudo é desespero
Desejo que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor pra recomeçar
Pra recomeçar
Eu te desejo, muitos amigos
Mas que em um você possa confiar
E que tenha até inimigos
Pra você não deixar de duvidar
Quando você ficar triste
Que seja por um dia, e não o ano inteiro
E que você descubra que rir é bom,
mas que rir de tudo é desespero
Desejo que você tenha quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor pra recomeçar
Pra recomeçar
Eu desejo que você ganhe dinheiro
Pois é preciso viver também
E que você diga a ele, pelo menos uma vez,
Quem é mesmo o dono de quem
Desejo que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor pra recomeçar
Pra recomeçar
Pra recomeçar.
Pois toda idade tem prazer e medo
E com os que erram feio e bastante
Que você consiga ser tolerante
Quando você ficar triste
Que seja por um dia, e não o ano inteiro
E que você descubra que rir é bom,
mas que rir de tudo é desespero
Desejo que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor pra recomeçar
Pra recomeçar
Eu te desejo, muitos amigos
Mas que em um você possa confiar
E que tenha até inimigos
Pra você não deixar de duvidar
Quando você ficar triste
Que seja por um dia, e não o ano inteiro
E que você descubra que rir é bom,
mas que rir de tudo é desespero
Desejo que você tenha quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor pra recomeçar
Pra recomeçar
Eu desejo que você ganhe dinheiro
Pois é preciso viver também
E que você diga a ele, pelo menos uma vez,
Quem é mesmo o dono de quem
Desejo que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor pra recomeçar
Pra recomeçar
Pra recomeçar.
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
HISTÓRIA E LITERATURA: CONTOS DE FADA
O que a história -A roupa nova do rei, revela sobre a Europa no fim da Idade Média?
Nesse conto infantil há referências a elementos sociais, onde os alunos podem conhecer épocas e lugares bem diferentes.
Tanto a História como a Literatura são formas narrativas de se conhecer o mundo. Por isso, quanto mais cedo essas disciplinas forem apresentadas às crianças, maior será sua intimidade com elementos como enredo, contexto, personagens, ação e trama, facilitando assim a compreensão dos dramas sociais vividos e da nossa capacidade de interferir neles. Esses recursos também desenvolvem habilidades para a leitura, a escrita e a visão histórica das sociedades.
É interessante observar, durante a ação pedagógica, a veracidade no âmbito da História, bem como da ficção na Literatura. É preciso saber observar o quanto de verdade existe na ficção. Em muitos casos, o que aparenta ser simples recurso literário pode representar um costume da época ou um símbolo essencial para a compreensão de algum acontecimento. O importante é localizar, no texto ou filme de ficção, situações e características que fomente discussões sobre o período abordado ou o contexto representado.
A roupa nova do rei
Hans Christian Andersen
Versão livre:
Alfredo Braga
Era uma vez um Rei que apreciava de tal maneira roupas novas que despendia com elas grandes fortunas. Ele não se importava com as bibliotecas, com as escolas, ou com os museus, a não ser para exibir as suas roupas. Para cada hora do dia vestia uma diferente. Em vez de o povo dizer: Ele está em seu gabinete de trabalho, dizia: Ele está em frente ao espelho no seu quarto de vestir. Mesmo assim a vida cultural era muito movimentada naquele reino que postulava ser de primeiro mundo.
Um dia foram contratados, pela Fundação Cultural do Reino, vários curadores e artistas, e entre eles dois que se apresentavam como estilistas-tecelões e que se gabavam de costurar os mais belos trajes com os mais belos tecidos do mundo. Segundo eles, não só os padrões, as tramas e as cores dos modelos eram belíssimos, mas os tecidos fabricados por eles tinham a infalível virtude de ficarem completamente invisíveis para as pessoas dissimuladas, ou as incompetentes, ou as destituídas de inteligência.
— "Essas roupas com esses tecidos serão maravilhosas." — pensou o Rei — "Usando-as poderei descobrir quais pessoas são falsas, ou que não estão em condições de ocupar cargos, e então poderei substituí-las por outras... Mandarei que fabriquem muitas peças desse tecido para mim..."
Fez um adiantamento em moedas de ouro para que começassem a trabalhar imediatamente. Os estilistas então encomendaram uma grande quantidade de bobinas e carretéis dos mais caros fios de seda e fios de ouro (que escamotearam sorrateiramente e guardaram em seus baús enquanto simulavam trabalhar nos teares vazios) e começaram a tecer, mas nada havia na urdidura ou nas lançadeiras.
Depois de alguns dias, o Rei estava ansioso e andava de um lado para o outro enquanto procurava se distrair com algum casaco ou chapéu do qual ainda não estivesse muito enjoado, ou que ainda estivesse na moda.
— Eu quero saber como vai indo o trabalho dos tecelões. — dizia o Rei, mas andava vagamente pensativo e preocupado... Ele não tinha propriamente dúvidas sobre a sua honestidade e inteligência, mas achou melhor mandar outra pessoa ver o andamento do trabalho.
Todos na cidade também já tinham ouvido falar no poder maravilhoso do tecido, e cada um estava mais ansioso para saber quem era o mais falacioso e burro entre os seus vizinhos.
— "Mandarei o Primeiro Ministro observar o trabalho dos estilistas-tecelões; ele verá o tecido, pois é inteligente e desempenha as suas funções com perfeição." — cavilou o Rei.
Mandou chamar o Primeiro Ministro e ordenou que fosse ao salão (onde os dois charlatães simulavam trabalhar nos teares vazios) saber do tecido.
— "Deus me acuda!" — pensou o Primeiro Ministro, arregalando os olhos quando lhe mostraram o tear. — "Não consigo ver nada!" — no entanto teve o cuidado de não dizer isso em voz alta.
Os tecelões o convidaram a aproximar-se para verificar como o padrão da trama estava ficando bonito e apontavam para os teares. O pobre homem apertava a vista o mais que podia, tirava e punha os óculos, mas não conseguiu ver coisa alguma.
— "Céus!" — pensou ele — "Será possível que eu seja tão fingido e incompetente? Bem, ninguém deverá saber disto e não contarei a ninguém que não vi o tecido."
— Vossa Excelência nada disse sobre o tecido... — queixou-se um dos estilistas.
— Ah, sim. É muito bonito. É encantador! — respondeu o Primeiro Ministro, limpando os óculos com um lenço de cambraia de linho — O padrão é lindo e as cores são de muito bom gosto. Direi ao Rei que me agradou muito.
— Estamos encantados com a vossa opinião, Senhor Primeiro Ministro. — responderam os dois ao mesmo tempo, e iam descrevendo as cores e a trama especial daquele pano tão caro. O Primeiro Ministro prestou muita atenção a tudo o que diziam para poder depois repetir diante do Rei.
Os estilistas pediram mais dinheiro, mais seda e mais ouro para prosseguir com o trabalho e, como das outras vezes, puseram tudo em seus baús e continuaram fingindo que teciam.
Poucos dias depois o Rei enviou o Ministro da Cultura e das Artes para olhar o trabalho e saber quando ficaria pronto. Aconteceu-lhe como ao Primeiro Ministro: Olhou, olhou, tornou a olhar, mas só via os teares vazios.
— Não é lindo o tecido? — indagavam os tecelões, e davam-lhe as mais variadas explicações sobre a trama, o padrão, os brilhos, as cores.
— "Eu penso que não sou muito desonesto..." — refletiu o Ministro da Cultura e das Artes — "e nem estúpido... Se fosse assim, não teria chegado à altura do cargo que ocupo... Que coisa estranha!..."
Pôs-se então a elogiar as cores e o desenho, e mais tarde, não só como Ministro mas como Curador de exposições de artistas e fotógrafos, comunicou ao Rei:
— É um trabalho sublime... em seus aspectos de inconcretude material... hã... uma obra-prima em sua fundamentalidade semântica... e visualidade sígnica... hã... o imagético e o invisível se fundem num todo de... hã... expectativas estético-formais... neste simulacro crítico... se percebe a função... hã... as funções, semióticas... da transcendente imaterialidade da arte...
E já completamente tomado:
— Assim, neste procedimento referencial do não-objeto... hã... em sua virtual vacuidade... o deslocamento do olhar... em sua intensa... hã... re-significação... a obscurecer ao limite extremo... toda e qualquer possibilidade de reflexão perceptiva... hã... insere-se nesta vertiginosa... pós-modernidade... hã... Mas, por outro lado... o discurso estético... das poéticas da segunda metade do século XX ... hã...
O Rei teve de o interromper:
— Está bem, já compreendi.
A cidade inteira só falava nesse deslumbrante tecido, de modo que o Rei resolveu vê-lo enquanto estava nos teares. Acompanhado por um grupo de cortesãos e cortesãs, entre os quais os Ministros que já tinham ido ver o prodigioso pano, e curadores e artistas convidados, lá foi ele visitar os ardilosos tecelões. Eles estavam trabalhando mais do que nunca nos teares vazios.
— Veja, Vossa Alteza Real, que delicadeza de desenho! Que combinação de cores! — balbuciavam os altos funcionários do Rei enquanto apontavam para os teares vazios e os curadores desenvolviam os seus discursos. — Ofuscante... Estonteante... — suspiravam as cortesãs.
O Rei, que nada via, preocupado pensou: — "Serei eu o único cretino e não estarei em condições de ser o Rei? Nada pior do que isto poderia me acontecer!" — então, em alto e bom tom, declarou:
— Muito bom! Realmente merece a minha aprovação!
Por nada deste mundo ia confessar que não tinha visto coisa alguma. Todos aqueles que o acompanhavam também não conseguiam ver o tecido, mas exclamavam em prolongados murmúrios:
— Oh! Deslumbrante... Magnífico... — e aconselharam ao Rei que usasse a roupa nova por ocasião da parada anual que ia se realizar daí a alguns dias. O Rei até concedeu a cada tecelão-estilista a famosa Comenda das Artes e o nobre título de Cavaleiro Estilista-Tecelão.
Na noite que precedeu o desfile, os charlatães tecelões fizeram serão. Iam acendendo todas as lâmpadas do atelier para que todos pensassem que estavam trabalhando à noite para aprontar os trajes do Rei. Fingiam tirar o tecido dos teares, cortavam a roupa no ar com um par de tesouras muito grandes e coseram-na com agulhas sem linha. Na manhã do dia seguinte disseram:
— Agora, a roupa do Rei está pronta.
Sua Majestade, acompanhado dos cortesãos, veio provar a roupa nova. Os estilistas embusteiros fingiam segurar alguma coisa e diziam:
— Aqui estão as calças, aqui está o casaco e aqui o manto. Estão leves como teias de aranhas; até parece que não há nada cobrindo o Rei, mas aí é que está a rara e fina qualidade deste modelo e deste tecido.
— Sim! — concordaram todos, embora nada estivessem vendo.
— Poderia Vossa Majestade despir-se? — pediram os impostores. — Assim poderemos vestir-lhe a roupa nova.
O Rei despiu-se e eles fingiram vestir-lhe peça por peça. Sua Alteza Real virava-se para lá e para cá, olhando-se ao espelho (vendo sempre a redonda imagem de seu corpo nu).
— Oh! Como lhe assentou bem o novo traje, Alteza! Que lindas cores! Que bonito padrão! — diziam todos com medo de caírem no ridículo e perderem os altos cargos se descobrissem que não viam nada. Entretanto o Mestre de Cerimônias anunciou:
— A carruagem está esperando para conduzir Vossa Majestade.
— Estou quase pronto. — respondeu o Rei.
Mais uma vez virou-se solenemente em frente ao espelho, com o rosto erguido sobre o ombro, numa atitude de quem está mesmo apreciando alguma coisa.
Os pagens que iam segurar a cauda do manto, inclinaram-se como se fossem levantá-la e foram caminhando com as mãos à frente, sem dar a perceber que não estavam vendo roupa alguma. Durante o desfile o Rei ia caminhando cheio de pompa à frente da carruagem. O povo nas calçadas e nas janelas, também não querendo passar por tolo, ou mentiroso, exclamava:
— Que caimento tem a roupa do Rei! Que manto majestoso! E que brilhante tecido!
Nenhuma roupa do Rei jamais recebera tantos elogios! Entretanto um menino que estava entre a multidão, achou aquilo tudo muito estranho e disse:
— Coitado do Rei... Está nu!
Os homens e as mulheres do povo, conhecendo que o menino não era nem falso e nem tolo, começaram a murmurar... e logo a seguir, como numa onda, em altos brados repetiam:
— O Rei está nu! O Rei está nu!
O Rei, ao ouvir aquelas vozes do povo, ficou furioso por estar tão ridículo! O desfile entretanto devia prosseguir, de modo que se manteve imperturbável e os pagens continuavam a segurar-lhe a cauda invisível.
Depois que tudo terminou ele voltou ao Castelo Real de onde nunca mais pretendia sair. Mas, como sempre acontece, uma semana depois o povo já havia esquecido o escândalo, e os funcionários do reino seguiam como se nada houvesse acontecido: Os cargos continuavam a ser distribuídos entre as mesmas duas ou três famílias e seus agregados; os impostos sonegados; o desvio de verbas continuava em alta, enfim, tudo voltou ao normal.
Quanto aos dois estilistas-tecelões, desapareceram misteriosamente levando o dinheiro, os fios de seda e o ouro. Meses depois um viajante contou que eles haviam pregado o mesmo golpe em outro pequeno reino, onde os cidadãos também andavam de nariz empinado, cheios de soberba e afeitos às pequenas e às grandes hipocrisias.
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