quinta-feira, 14 de outubro de 2010

E FALANDO DA ESCOLA...



Conversando com minha filha de 6 anos (2010) sobre o projeto da escola ...: "As minhocas", ela disse:
-Mãe, não aguento mais copiar! Copiei uma folha inteira de coisa sobre a minhoca.
Fiquei pensando...qual é a lógica da cópia?
Não sou contra cópias, mas acredito que ela não deva ser usada tão regularmente em sala de aula, principalmente como estratégia de ensino para obter disciplina e controlar os alunos . Lançar mão desta atividade, só tornou  a coitada da minhoca a mais enfadonha das criaturas e fez com que o  as palavras, aos olhos de minha filha, ficassem  sem valor algum, tornando-a desinteressada pela leitura e pela escrita.
Não deveria ser a falta de interesse das crianças, o 'termômetro' do professor? 
Quando estamos com febre, utilizamos o termômetro para medir a temperatura do corpo a fim de  tomarmos  os devidos cuidados com a saúde. Acho que todo professor deveria ter um instrumento similar, já que muitos possuem dificuldade para entender  que o  desinteresse da criança possa ser  um sinal  de que o  processo educacional não anda bem. 
Observar com atenção esse sinal, pode nos ajudar a elaborar novas estratégias pedagógicas, a fim de tornar o processo educacional mais significativo para o  aluno. 
O poeta Manuel de Barros, de maneira poética,  nos diz  em seu poema, que devemos dar mais atenção ao que as crianças dizem e manisfestam nas mais variadas formas de linguagem...

Poeminha em Língua de brincar

Ele tinha no rosto um sonho de ave extraviada.
Falava em língua de ave e de criança.

Sentia mais prazer de brincar com as palavras
do que de pensar com elas.
Dispensava pensar.

Quando ia em progresso para árvore queria florear.
Gostava mais de fazer floreios com as palavras do que de fazer idéias com elas.

Aprendera no Circo, há idos, que a palavra tem
que chegar ao grau de brinquedo
para ser séria de rir.

Contou para a turma da roda que certa rã saltara
sobre uma frase dele
E que a frase sem arriou.

Decerto não arriou porque não tinha nenhuma
palavra podre nela.

Nisso que o menino contava a estória da rã na frase
Entrou uma Dona de nome Lógica da Razão.
A Dona usava bengala e salto alto.

De ouvir o conto da rã na frase a Dona falou:
Isso é língua de brincar e é idiotice de
criança
Pois frases são letras sonhadas, não têm peso,
nem consistência de corda para agüentar uma rã
em cima dela

Isso é Língua de raiz – continuou
É Língua de faz de conta
É Língua de brincar!

Mas o garoto que tinha no rosto um sonho de ave
Extraviada
Também tinha por sestro jogar pedrinhas no bom
senso.

E jogava pedrinhas:
Disse que ainda hoje vira a nossa tarde sentada
sobre uma lata ao modo que um bentevi sentado
na telha.

Logo entrou a dona Lógica da Razão e bosteou:
Mas lata não agüenta uma tarde em cima dela, e
ademais a lata não tem espaço para caber uma
Tarde nela!
Isso é Língua de brincar
É coisa-nada

O menino sentenciou:
Se o Nada desaparecer a poesia acaba.

E se internou na própria casca ao jeito que o
jabuti se interna.





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