Interpretação das idades da vida, um conto transcrito pelos irmãos Grimm.
Deus havia destinado 30 anos de vida ao homem e a todos os animais; o asno, o cão e o macaco conseguiram que ele cortasse 18 anos, 12 anos e 10 anos do número fixado, pois uma vida longa lhes parecia penosa. O homem, menos sábio que os animais pediu um prolongamento: conseguiu os 18 anos do asno, os 12 do cão e os 10 do macaco: "tem, portanto, 70 anos de vida". O homem não entendeu que a longevidade teria que ser paga com a decrepitude.
Os trinta primeiros anos são seus, e passam rápido...Chegam, então, os 18 anos do asno, durante os quais ele tem que carregar nos ombros fardos e mais fardos; é ele que fornece ao moinho o trigo que alimenta os outros...Depois, vêm os 12 anos do cão, durante os quais não faz outra coisa senão reclamar, arrastando-se de um canto a outro...Passado esse tempo, não lhe restam mais, para terminar, do que os 10 anos do macaco. Não tem mais a cabeça boa, fica meio esquisito, faz coisas estranhas que provocam riso a zombaria de crianças.
Assim, se a velhice do homem é mais longa e mais penosa do que a dos animais, é ele o responsável por isso: condenou-se a si próprio, por sua irrefletida avidez. (século XlX)
Como os idosos,especialmente as mulheres, são representados nos contos destinados às crianças?
É ético relacionar valor/caráter ao etário, no caso, especificamente ao adulto idoso? É justo continuar usando imagens de idosos para representar o maléfico?
Se no passado a longevidade era coisa rara, hoje, conforme o Relatório Mundial de Saúde e Envelhecimento, cresce o número de pessoas com mais de 60 anos em nosso país.
Em uma época de crise econômica e política, onde não temos mais certeza sobre o futuro, uma coisa é certa: o Brasil está envelhecendo, e já é tempo de pensarmos novos valores democráticos, onde sejam incluídos idosos, jovens, pessoas de diferentes etnias, gêneros e com diferentes habilidades.