“Uma palavra que não representa uma ideia, é uma coisa morta, da mesma forma que uma ideia não incorporada em palavras não passa de uma sombra.” Vygotsky
domingo, 24 de agosto de 2014
O ESPELHO DA VERDADE
De acordo com uma lenda africana, no princípio havia uma única verdade no mundo.
Entre o Orun (mundo invisível, espiritual) e o Aiyê (mundo natural) existia um grande espelho. Assim tudo que estava no Orun se materializava e se mostrava no Aiyê. Ou seja, tudo que estava no mundo espiritual se refletia exatamente no mundo material.
Ninguém tinha a menor dúvida em considerar todos os acontecimentos como verdades.
E todo cuidado era pouco para não se quebrar o espelho da Verdade, que ficava bem perto do Orun e bem perto do Aiyê.
Neste tempo, vivia no Aiyê uma jovem chamada Mahura, que trabalhava muito, ajudando sua mãe. Ela passava dias inteiros a pilar inhame. Um dia, inadvertidamente, perdendo o controle do movimento ritmado que repetia sem parar, a mão do pilão tocou forte no espelho, que se espatifou pelo mundo. Mahura correu desesperada para se desculpar com Olorum (o Deus Supremo). Qual não foi a surpresa da jovem quando encontrou Olorum calmamente deitado à sombra de um iroko (planta sagrada).
Olorum ouviu as desculpas de Mahura com toda a atenção, e declarou que, devido à quebra do espelho, a partir daquele dia, não existiria mais verdade única. E concluiu Olorum:
"De hoje em diante, quem encontrar um pedaço de espelho em qualquer parte do mundo já pode saber que está encontrando apenas uma parte da verdade, porque o espelho espelha sempre a imagem do lugar onde ele se encontra".
Portanto, a Verdade não pertencerá a ninguém, pois haverá um pedacinho dela em cada lugar.
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